Gonçalo Barriga

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Dêem-me tempo para respirar!

 

Na fotografia, a criatividade está a ser impulsionada pela tecnologia, ou, pelo contrário a ser limitada pelo seu rápido crescimento?

É indiscutível que conseguimos fazer muito mais com todas as novas ferramentas e as suas capacidades melhoradas (a sensibilidade e qualidade de imagem dos novos sensores, por exemplo, está a abrir todo um novo mundo de possibilidades), mas será que conseguimos acompanhar este ritmo e continuar a produzir trabalho significativo e bem estruturado? No limite, será que conseguimos produzir seja o que for, se nos quisermos manter a par de todas as novidades de equipamento? Sem falar nas dúzias de programas de edição de imagem e milhões de filtros disponíveis!

Eu sou todo a favor da evolução e adoro ter o poder de fotografar em condições praticamente sem luz, live view, vídeo, 10 frames/seg, etc, etc, etc… mas assim que me começo a habituar a uma máquina, sai logo outra que supostamente a torna obsoleta!

A arte precisa da ajuda de ferramentas para se materializar, claro, mas os artistas e criativos precisam de amadurecer (pelo menos um pouco) com essas ferramentas antes de mudar. Caso contrário, parece que nos estão a enfiar fast food pela goela abaixo!

A minha outra embirração é a forma displicente como consumimos arte na net (sim, eu também estou incluído!)

Um fotógrafo que eu admiro disse recentemente que nós estamos a desenvolver a capacidade de rapidamente olhar e processar visualmente uma grande quantidade de imagens, enquanto as "folheamos" na net. Permitam-me discordar… eu acho que sim, que nós olhamos para um monte de imagens todos os dias (redes sociais, revistas online, sites de fotografia…), mas será que verdadeiramente as vemos? Não. Não no sentido de lhes darmos mais atenção do que "giro", "hum", "fixe", "boa"… estamos sempre com uma espécie de pressa em passar para a imagem seguinte. Talvez porque elas são praticamente infinitas na net! E talvez isso nos esteja a reduzir a capacidade de distinguir boa fotografia, de fotografia… hum… como direi… "menos boa"?

Suponho que seja esta uma das razões porque eu gosto tanto de fotos impressas. Há tempo.